Qual sua opinião sobre o atual papel da universidade na produção agrícola brasileira?
Não sei se vocês perceberam, mas ao que me parece a educação é o assunto da vez. Ou pelo menos o contingenciamento de verbas para algumas universidades brasileiras. As universidades são os locais onde aprendemos fazer ciência. E não digo ciência apenas como ensaios de campo com suas parcelas experimentais. Mas fazer ciências é também estudar sobre políticas públicas, dar palestra sobre a história do país ou determinada cultura e também criar artes visuais.
Nesse sentido, curso de agronomia em conjunto com a Biotecnologia, por exemplo, tem feito ciência garantindo a segurança alimentar em todo o planeta. No caso do Brasil, no período de 1976 a 2014, a produção de grãos e fibras foi de 331%, apenas com um aumento de área plantada de 31%. Sem falar da produtividade por hectare, que foi de 229% no mesmo período. Ou seja, com o aumento no uso de tecnologias a campo como, agricultura de precisão, uso de ferramentas de biologia molecular, técnicas de melhoramento genético de plantas, foi possível fazer que a agricultura tivesse uma participação 21,6% no PIB do ano de 2018. Segundo, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), se não fosse a expansão da agricultura, a retração da economia brasileira (-3,8% em 2015 e -3,6% em 2016), teria sido ainda pior.
Mas como essas tecnologias puderam permitir todos esses ganhos? No caso do melhoramento genético de plantas, o cruzamento artificial entre variedades pode gerar uma variedade com maior número de grãos por vagem. Ou ainda por meio da biobalística, técnica que transfere genes diretamente para o interior de uma célula de uma variedade a ser modificada, podemos inserir um gene específico para resistência a uma doença dentro da célula de outra planta. O conhecimento de quanto uma determinada característica (coloração de tilápias) pode ser herdada para outra geração, é importante para que novos mercados sejam alcançados, aumentando o faturamento do piscicultor.
No entanto, o conhecimento que a universidade ou entidades de pesquisas públicas têm gerado é desconhecido da maior parte da sociedade. Aqui entra o papel dos pesquisadores em tornar essas descobertas mais acessíveis, aumentando o poder de divulgação e facilitando a linguagem para quem desconhece o assunto.
Há tanto que a universidade pode fazer para ajudar o homem do campo. O que falta é alinhar as ideias e aprender a trabalhar em conjunto para melhorar o que realmente irá trazer algum ganho para os produtores, sejam do agronegócio ou da agricultura familiar.
Em vez de perder tempo falando sobre o contingenciamento, vamos unir forças e ver o que podemos fazer em conjunto para cultivar alimentos que possam matar a fome das pessoas da nossa cidade?