A ESPN afastou temporariamente seis de seus principais jornalistas após a edição de segunda-feira (6) do programa Linha de Passe abordar de forma crítica as denúncias contra Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), publicadas pela revista piauí. A medida, que atingiu os comentaristas Dimas Coppede, Gian Oddi, Paulo Calçade, Pedro Ivo Almeida, Victor Birner e William Tavares, repercutiu no meio esportivo e levantou questionamentos sobre os limites da liberdade editorial em emissoras com vínculos comerciais no futebol brasileiro.
A suspensão ocorreu na terça-feira (7), menos de 24 horas após o programa ir ao ar. Segundo apuração do jornal UOL, a direção da ESPN foi procurada pela cúpula da CBF, o que motivou reuniões internas na emissora. A alta gestão do canal teria se irritado por não ter sido previamente informada sobre o conteúdo que seria debatido no Linha de Passe, apesar da pauta ter se baseado em informações públicas e já divulgadas por um veículo reconhecido da imprensa.
O grupo suspenso deve ser reintegrado à programação a partir desta quarta-feira (10), mas a reação da emissora, ainda sem manifestação oficial, reforça tensões entre interesses comerciais e autonomia jornalística. A ESPN, que transmite partidas do Campeonato Brasileiro da Série B por meio de contrato com a agência PEAK — intermediária da Liga Forte União (LFU), e não diretamente com a CBF —, viu-se no centro de uma polêmica que vai além de sua grade de programação.
A edição seguinte do Linha de Passe foi ao ar com uma formação completamente alterada, composta por André Plihal, André Kfouri, Breiller Pires, Eugênio Leal e Leonardo Bertozzi. A mudança também impactou escalas de transmissões esportivas.
Em nota, a CBF afirmou que "respeita a liberdade de imprensa com responsabilidade e não pede interferências de nenhum tipo na linha editorial de veículos de comunicação". A ESPN, por sua vez, ainda não se pronunciou oficialmente.
O episódio traz à tona o debate sobre a independência da cobertura esportiva no Brasil. Em um cenário em que entidades como a CBF mantêm relações comerciais e institucionais com emissoras e veículos de mídia, a capacidade de abordar temas sensíveis, como denúncias e investigações sobre a o futuro do futebol brasileiro como produto, fica frequentemente sob pressão. A suspensão de jornalistas por discutirem fatos de interesse público, mesmo que de forma crítica, representa mais um capítulo desse embate entre jornalismo, poder e censura.
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