Com apenas seis meses de mandato, a vereadora Isa Marcondes (Republicanos), a mais votada da atual legislatura da Câmara Municipal de Dourados — com 2.992 votos nas eleições de outubro de 2024 — já se tornou uma figura central em uma série de confusões e polêmicas, especialmente por suas ações de fiscalização em unidades de saúde, como postos, a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e o HV (Hospital da Vida).
Nas redes sociais, em especial no Instagram, onde acumula 129 mil seguidores, Marcondes publica vídeos mostrando a infraestrutura dos prédios públicos. Em alguns casos, chegou a expor profissionais da saúde, o que motivou denúncias por parte desses servidores e até mesmo a abertura de investigação pelo Ministério Público Estadual.
Entre as reclamações, médicos alegam que a vereadora tem ofendido a classe, utilizando termos como “jumentos”, “preguiçosos” e “incompetentes”.
Em maio deste ano, o jornal Correio do Estado publicou uma reportagem relatando o desabafo de uma médica:
“Sou médica, fazia plantões na UPA. A atual vereadora Isajane Marcondes está ingressando dentro da UPA, coagindo profissionais da saúde, filmando, destratando os profissionais (...)”.
Com o discurso de "mostrar a verdade à população" e "lutar por melhorias na saúde pública" da maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul, Isa Marcondes, segundo servidores, estaria promovendo uma espécie de embate entre a população e os profissionais de saúde, incitando a ideia de "nós contra eles".
Denúncia por quebra de decoro
Em junho, a vereadora foi denunciada na Câmara Municipal por quebra de decoro parlamentar. A denúncia, no entanto, foi rejeitada pelos demais vereadores, e o caso — que poderia até resultar em cassação do mandato — acabou arquivado.
O autor da denúncia foi um médico da UBS (Unidade Básica de Saúde) do Bairro Altos do Indaiá. Ele alegou ter sido vítima de ataques da parlamentar em suas redes sociais, após um episódio ocorrido em maio. Na ocasião, o médico atendeu uma criança de dois anos e três meses na unidade e orientou clinicamente a família. Insatisfeitos, os pais buscaram uma nova avaliação médica na UPA.
Conforme o relato, na UPA, a vereadora conversou com a família e publicou um vídeo com a versão apresentada inicialmente.
“A família buscou a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), oportunidade em que foram ouvidos pela denunciada, que gravou e publicou um vídeo totalmente sensacionalista, e postou em suas redes sociais, somente no Instagram contou com 109 mil visualizações. A família alegou, sem respaldo técnico ou acesso a registros médicos, que o atendimento foi negligente. A vereadora endossou tais afirmações, acusando o denunciante de humilhar a família, afirmou que a família estaria chorosa, que o denunciante gritou com a mãe, que não examinou a criança e que expulsou a criança do consultório, todas alegações falsas e desprovidas de prova”, descreveu o médico na denúncia.
Ainda segundo ele, a publicação gerou comentários hostis nas redes sociais, “incitando agressões físicas e aludindo a atentados contra a vida do denunciante, comprometendo sua segurança e integridade física, psíquica e moral”.
A denúncia foi encaminhada também ao CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul), para ciência e proteção da honra profissional; ao MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul), para apuração de possíveis crimes como calúnia (art. 138), difamação (art. 139), injúria (art. 140), incitação ao crime (art. 286), ameaça (art. 147) e abuso de autoridade (Lei nº 13.869/2019, art. 30); além de incluir pedido de proteção “para garantir a segurança pessoal do denunciante e a integridade moral e funcional da equipe de saúde, frente às ameaças e ao assédio institucional”.
Novo episódio com registro na polícia
O caso mais recente ocorreu nesta quinta-feira (3/7), quando a vereadora, conhecida popularmente como “Cavala”, se envolveu em nova confusão com um médico, que acabou sendo registrada na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário).
De acordo com vídeo publicado na página oficial de Isa Marcondes, ela foi até a unidade básica de saúde “para colocar a casa em ordem”. No entanto, o profissional de saúde citado por ela em fiscalizações anteriores se apresentou, justificando que não estava presente nas visitas anteriores porque realizava atendimentos domiciliares e participava de curso convocado pela Secretaria Municipal de Saúde.
O médico pediu uma retratação pública, mas a vereadora se recusou, reforçando que estava apenas “cumprindo seu dever de fiscalização”. A situação evoluiu para discussão, com troca de acusações, xingamentos e ofensas, e ambos decidiram registrar boletim de ocorrência.