A proprietária da creche Cantinho da Tia Carol, que funcionava de forma clandestina em Naviraí, Caroline Florenciano dos Reis Rech, de 30 anos, prestou depoimento à delegada da DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher), Sayara Quinteiro Martins Baetz, e disse “estar ferrada”. A mulher é acusada de maus-tratos e torturas, e ainda de dopar as crianças com medicamentos.
Durante a fala à delegada, Caroline se alterou e disparou: “em liberdade ou dentro de um presídio, estou ferrada”. Ela foi presa junto com uma funcionária identificada como Mariana, de 26, após denúncias de agressões físicas, moral e até psicológica contra os menores.
Os atos de violências foram confirmados depois de duas horas de investigação, já que a polícia conseguiu autorização judicial para instalar equipamentos de captura de áudio e vídeo no estabelecimento.
Importante destacar que até a última atualização, Caroline Florenciano continua presa, aguardando vaga para o presídio feminino, enquanto a funcionária pagou fiança de R$ 1.320 para responder em liberdade.
“A declarante se altera e diz que não falará nada. Expressa grande nervosismo, grita e afirma que tudo o que foi presenciado nas câmeras é verdade, que ela errou, no entanto, não ministrou nenhum tipo de remédio em crianças e nem mandou ministrar. Diz que irá se matar, porque se ela for liberta ou for para o presídio (sic), estará ferrada”, diz trecho do termo de qualificação e interrogatório do auto de prisão.
Caroline prestou depoimento na companhia de um advogado.
Sem formação
Caroline não tem formação profissional para exercer a atividade e durante a conversa com a polícia disse que “para ser babá, não precisa nenhuma formação”.
Ela contou que há quatro anos, começou a cuidar de crianças em sua casa e que o local chegou a receber 22 menores. Em janeiro deste ano, ela alugou o espaço onde funcionava até terça-feira (11/7).
A mulher relatou ainda que no dia 7 de julho um dos alunos quebrou a televisão da creche, e isso a deixou nervosa.
Ao longo da fala à polícia, Caroline negou ter aplicado calmantes às crianças e alegou que os medicamentos encontrados no imóvel, entre eles, o Deamavti, eram para uso pessoal em tratamento a labirintite.
Sonolência, sede e fome
Mães que prestaram depoimento à delegada Sayara Quinteiro Martins Baetz, relataram praticamente a mesma forma como os filhos costumavam chegar em casa após horas na creche: sonolentos, com muita fome e sede.
Uma das testemunhas, de 30 anos, disse ter percebido mudança no comportamento do filho há aproximadamente três semanas. O menino, de um ano e dez meses passou a não querer mais ir à creche.
Segundo o depoimento dela, recentemente o menor chegou com a boca inchada. Questionada pela mãe do aluno se ele havia caído, Caroline disse que poderia ter sido uma ‘mordida na língua’.
A situação mais grave ocorreu com uma bebê de 11 meses. Ela foi vista durante as filmagens feitas com autorização da Justiça, sendo torturada pela mulher. Além disso, relatos de crianças que presenciaram a cena e de Mariana, apontam que as agressões ocorriam de forma constante.
Outras testemunhas relataram que além dessas situações, alguns menores passavam por constrangimento. Como no caso de dois meninos que urinaram na roupa, foram repreendidos e chamados pelos outros colegas – a mando de Caroline - de ‘mijões’.
Essa situação foi relatada pelas próprias crianças ao serem questionadas pelos pais sobre o que acontecia dentro da creche.
Crianças eram dopadas, afirma a polícia
Os policiais informaram que as crianças eram dopadas com medicamento para vômitos e enjoos, proibido para menores de dois anos e que tem como um dos efeitos a sonolência para que parassem de chorar e dormir.
Durante as filmagens, os policiais também afirmaram ter presenciado a proprietária do estabelecimento batendo a cabeça da criança de 11 meses contra o sofá, chacoalhando e jogando outra criança no colchão, dando tapas, gritando, entre outras ações.