A PF (Polícia Federal) está investigando incêndio que destruiu uma Casa de Reza Kaiowá na Aldeia Jaguapiru, em Dourados, que pertence a Floriza de Souza, de 65 anos.
O fogo teve início no sábado (9/8), enquanto ela e o esposo, Jorge Silva, de 69 anos, acompanhavam a inauguração da base do Samu (Serviço de Atendimento Móvel) Indígena na Missão Evangélica Caiuá. O filho dela tinha saído para colher sapé, para consertar a cobertura da Casa de Reza.
“Fomos lá na Missão para fazer reza na abertura. Quando meu filho tava cortando sapé, chamaram ele e falaram que a Casa de Reza estava em chamas. Quando ele chegou o fogo já estava alto. Ele não viu que a gente já tinha saído e ficou gritando, chorando. Quando chegamos já estava tudo queimado”, contou a Ñandesy (rezadeira).
Existe a suspeita que o ato tenha sido criminoso. “Desde que meu filho morreu assassinado, essa Casa de Reza vem sendo ameaçada. Não é de hoje que tem ameaças. Precisamos de câmeras, de tela para fechar o local, mas ninguém liga para a gente. Tem que construir tudo de novo, não vai ser fácil. O mais grave de tudo é que três xirus foram queimados. Isso tem que ser muito bem guardado pelo ñanderu e ñandesy, para prevenir doenças, tempestades”, disse Floriza.
O “xiru” é um objeto feito de madeira que faz parte das relíquias sagradas das Casas de Reza e repassado por gerações nas famílias indígenas. É um elemento cultural de grande importância entre os Guarani-Kaiowá.
O filho de Dona Floriza afirmou que no ano passado, após o assassinato de seu irmão, ouviu ameaça de familiares de um dos autores do crime de que a Casa de Reza seria queimada. Ele disse que foi à Polícia Civil, mas não conseguiu registrar boletim de ocorrência da ameaça. “Falaram que não era crime ameaçar queimar Casa de Reza e pediram para ficarmos tranquilos que a Casa não seria queimada. Também fomos no Ministério Público Federal”, disse ele.
O rapaz conta que após ele denunciar as ameaças, houve reforço no policiamento perto da Casa de Reza, mas, com o tempo, o assunto caiu no esquecimento. No sábado, após o incêndio, peritos da Polícia Federal foram ao local para fazer levantamentos.