Corpo estava dependurado em árvore, mas pescoço quebrado, o que aumenta suspeita de assassinato; rapaz teria confessado crime
Corpo de menino de 12 anos foi encontrado pela mãe dele, pendurado em árvore, na área de retomada Piquiri, da Aldeia Ñanderu Marangatu, em Antônio João, cidade a 320 Km de Campo Grande. O caso ocorreu na segunda-feira, 15 de junho e é investigado pela Polícia Civil.
O que aparentemente seria um suicídio, tem a suspeita de avançar para identificação como caso de assassinato. Laudo da perícia para averiguar a causa da morte ainda não teve resultado, mas segundo professora indígena que acompanha a situação, Inaye Gomes Lopes, 32 anos, o cadáver estava com joelhos dobrados tocando o chão e o pescoço estaria quebrado.
Tal hipótese foi apresentada após o corpo ter sido levado para o IML (Instituto Médico Legal) da região, de onde veio a notícia da lesão no pescoço. “Mas só o laudo vai confirmar”, detalha Inaye. Além disso, a mãe diz ter ouvido pedindo de socorro antes de encontrar o garoto sem vida.
Ela conta que o menino, Fred Soria, que costumava ajudar a família tanto nos afazeres domésticos quanto no trabalho para conseguir dinheiro, era aplicado na escola e sonhava com uma vida melhor. “Ele chegou a ser ameaçado uma vez porque não queria fumar droga. Os meninos falaram que iam matar ele por isso”, lembra.
Existe a suspeita de que o autor da morte tenha sido um jovem da aldeia, que nunca o teria ameaçado. “Soubemos que ontem à noite esse rapaz teria confessado o crime para a família. Estava bêbado, drogado e quase esfaqueou o cunhado”, detalhou.
Essa situação foi relatada para a polícia, tanto Civil quanto Militar, mas ela não soube dizer se o tal rapaz já teria sido preso. A professora diz, no entanto, que sabe que há muito preconceito quando se fala em mortes de indígenas e que sempre pensam que foi caso de suicídio.
A reportagem falou com o delegado de Polícia Civil da cidade, Patrick Linares. De acordo com ele, quando a morte aconteceu a mãe estava muito abalada e não foi possível ouvi-la. De acordo com ele, ela ainda está sendo esperada para o depoimento, em razão disso.
História - O menino morava com a mãe, Loria Soria, o padrasto, Edmar Fernandes da Silva e os irmãos Adilson,10, Cleilson, 9, e Rayane, 4. São 20 famílias que vivem na área da Piquiri.
Fred estava no 7º ano, na escola indígena Mbo’eroy Tupai Arandu Reñoi (Escola pequeno Deus que nasceu com a sabedoria). Ele morava em um barraco e “sonhava em construir no lugar de onde mora a família, uma casa de Eternit”, disse a professora.
“Ele era uma criança de tudo. Ele ajudava o padrasto, levava abobrinha e mandioca pra vender na cidade em troca de carne e assim, se virava”, disse.
Antes do crime, segundo Inaye, a mãe contou a ela que Fred estava contente porque no almoço tinha macarrão e o padrasto decidiu ir pra cidade levar abobrinha e buscar carne.
“Dessa vez, Fred ficou com a mãe. Ela tirou um espinho do pé dele e chamou o filho pra irem no poço, longe da casa, para tomarem banho e ele disse que era pra ela ir, que depois ele iria”, contou a professora.
No entanto, ele não apareceu e a mãe ouviu de longe um pedido de socorro. “Quando chegou, encontrou o filho dependurado na árvore como se tivesse de joelhos rezando. Ela passou mal e chegou a desmaiar”.
Inaye disse ainda que as condições da família são precárias e que “era ele mais dois meninos, irmãos menores dele, que viviam a procurar comida para a mãe aqui nos vizinhos, da aldeia, na casa dos parentes”.
O corpo de Fred foi sepultado no cemitério da aldeia Campestre, na cidade, onde estão outros indígenas. Fred Soria é o último porque já não há mais espaço no local, conforme informações da comunidade.
Créditos: CAMPO GRANDE NEWS