Farmácia “fantasma” de Dourados está entre os estabelecimentos investigados pela PF (Polícia Federal) que apura envolvimento em esquema criminoso que desviou cerca de R$ 40 milhões do programa do governo federal Farmácia Popular.
Neste domingo (21/7), a denúncia foi revelada em reportagem do Fantástico, da TV Globo, e aponta que o dinheiro público foi usado para “lavar” recursos do tráfico internacional de drogas.
As redes de farmácias, segundo a Polícia Federal, operavam em vários estados do Brasil, utilizando CPFs (Cadastro de Pessoa Física) e endereços de pessoas inocentes para simular venda de medicamentos. A fraude envolvia também a compra e venda de CNPJs em nome de “laranjas” e usava o sistema do programa para emitir cobranças fraudulentas ao SUS (Sistema Único de Saúde).
Início das investigações
As investigações tiveram início depois da apreensão de 191 quilos de drogas em Luziânia (GO), no entanto, o esquema se revelou muito maior, com conexões em Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul. Entre os nomes citados está o de Fernando Batista da Silva, conhecido como “Fernando Piolho”, apontado como líder da organização criminosa.
De acordo com a PF, Fernando usava o nome da filha para abrir empresas, e teria ligações com o Comando Vermelho e o Clã Cisneros, organização criminosa peruana ligada a laboratórios de cocaína. A defesa do suspeito nega o envolvimento de seu cliente.
Os trabalhos investigativos revelaram ainda que algumas dessas farmácias que, se quer existiam fisicamente, estavam registradas em terrenos baldios, como uma localizada em Águas Lindas (GO), onde dois endereços fantasmas teriam recebido quase R$ 500 mil do Farmácia Popular.
Em outro exemplo, uma farmácia que deveria funcionar em Campo Belo (MG) foi associada a uma empregada doméstica que consta como dona de cinco drogarias em diferentes estados e movimentou cerca de meio milhão de reais. O nome dela também aparece vinculado à empresa Drogaria PHS, que teria feito saques indevidos usando o CPF de um dentista de Sumaré (SP), que nunca foi diabético, mas teve a retirada de até 20 caixas de insulina por mês registrada em seu nome.
A Polícia Federal apura ainda se os valores desviados de farmácias como a de Dourados foram repassados à organização comandada por “Fernando Piolho”, que teria usado o programa como fonte de financiamento do tráfico internacional de drogas, especialmente na fronteira com Bolívia e Peru.
Atualmente, cerca de 160 mil CPFs foram identificados como usados indevidamente pelo grupo, em uma rede que contava com pelo menos 148 farmácias reais ou fantasmas.