Para criar meios de reaproximação cultural de crianças e adolescentes indígenas da etnia Ofaié, o Governo do Estado realiza ações específicas na extensão da Escola Estadual Debrasa, localizada na aldeia, em Brasilândia.
Com foco na revitalização da língua Ofaié, a Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) – em parceria com a SED (Secretaria de Estado de Educação) –, desenvolve o projeto de meliponicultura, com a criação de abelhas sem ferrão.
O trabalho é parte do projeto de preservação cultural da língua materna e também dos costumes da etnia. O povo Ofaié é conhecido com o ‘povo do mel’, pois conhecem as abelhas de cada espécie, cultivam produtos e têm hábitos alimentares específicos.
A capacitação em apicultura para adultos já era realizada na aldeia há dois anos e recentemente foi iniciado o curso de meliponicultura para os dez alunos do 1° ao 5° ano do ensino fundamental, da Extensão Ofaié da unidade da REE (Rede Estadual de Ensino).
“Para os alunos da escola o projeto é um resgate da cultura e da língua materna. É tudo na escola, que fica na reserva. E as aulas práticas são na sala de aula aberta, que é no meio das árvores. Estamos na fase de preparar as armadilhas para captura das abelhas e eles amam. É um momento de aprendizado, de forma leve”, disse a engenheira agrônoma da Agraer – responsável pelo projeto –, Francielle Malinowski.
O projeto oferece suporte pedagógico para contemplar o conteúdo no currículo escolar e assim contribuir para fortalecer a língua e a cultura Ofaié.
“As crianças e os professores estão adorando. É uma atividade pedagógica de extrema importância para revitalizar a língua e a cultura do povo. As crianças que não tinha mais essa vivência com os pais, agora estão obtendo na escola. E assim trazemos de volta esse referencial, o sentimento de pertencimento”, explicou o assessor pedagógico Fernando Azambuja de Almeida.
A revitalização da língua é um processo a longo prazo, com previsão de ocorrer no período de 10 a 20 anos. “É lento, mas observamos o desenvolvimento dos alunos. O professor indígena, que fala Ofaié, se comunica com frases na língua indígena. As crianças falam a numeração, e os cumprimentos, como o “bom dia”. E agora eles levam isso pra casa, para conversarem com os pais”.
Os alunos, sob a supervisão da engenheira, atuam na captura do enxame, e a previsão é de que a produção de mel seja efetiva nos próximos meses. “As crianças participam, ficam empolgados fazendo as armadilhas. E esta época é propícia. No início da primavera a gente vai passar as abelhas para as caixas específicas. A previsão é ter no mínimo dez caixas até o fim do ano”, afirmou Francielle.
O mel deste tipo de abelha é muito valorizado para consumo e tem propriedades farmacológicas para evitar e tratar doenças respiratórias. “A produção é pequena, mas tem grande procura. Os indígenas coletam da floresta. O projeto de apicultura tem 12 participantes e agora, com o meliponário, as crianças podem contribuir, é possível manter o manejo adequado e o cuidado inclusive próximo das residências, pois não existe perigoso e todos participam”, explicou a engenheira agrônoma da Agraer.
Línguas indígenas
Para atender a Década Internacional das Línguas Indígenas (International Decade of Indigenous Languages – IDIL 2022-2032) proclamada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o Governo do Estado desenvolve o Plano Estadual para a Década das Línguas Indígenas, como forma de preservar a cultura das comunidades que vivem em Mato Grosso do Sul.
Com 80 mil indígenas de oito etnias – guarani, kaiowá, terena, kadwéu, kinikinaw, atikun, ofaié e guató –, o Estado tem a segunda maior comunidade do Brasil.
O Plano Estadual das Línguas Indígenas prevê atuação específica para as três línguas em vias de extinção que são kinikinau, ofaié e guató, além da Língua Terena de Sinais, que é a única língua indígena de sinais reconhecida no Brasil.
O Governo do Estado, por meio da SED, também produz materiais didáticos para alfabetização e letramento de crianças indígenas nas línguas Guarani, Kaiowá, Kadiwéu e Terena.
A adequação linguística de material didático para as quatro línguas indígenas foi anunciada em maio deste ano como parte do “Alfabetiza MS Indígena”, uma ramificação do programa MS Alfabetiza, criado em 2021 e em prática na rede pública de ensino desde o início do ano passado.