A ressocialização é uma realidade em Mato Grosso do Sul. Roberto Faiçal, por exemplo, passou de membro de uma facção criminosa a empresário bem-sucedido graças à oportunidade de trabalho oferecida durante o cumprimento da pena.
Em livramento condicional há mais de três anos, ele atua como eletricista e até conseguiu abrir a própria empresa. O projeto dele é utilizar a experiência adquirida para oferecer oportunidades a outros reeducandos, empregando, no futuro, mão de obra prisional.
Além de ensinar uma profissão e oferecer uma oportunidade para que os condenados não voltem a cometer crimes, o uso de mão de obra prisional também reduz o custo da massa carcerária aos cofres públicos, por meio da remição da pena.
Em Mato Grosso do Sul, 34% dos presos possuem uma ocupação produtiva. São mais de 7 mil detentos que trabalham no Estado gerando uma economia para os cofres públicos de mais de R$ 44 milhões por ano, de acordo com a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário).
O gasto com os presos é um problema enfrentado em todo o País. Em Mato Grosso do Sul, cada detento custa cerca de R$ 2.100. Isso representou de 2015 a 2020 um gasto de R$ 2,7 bilhões.
Educação e liberdade
Roberto Faiçal trabalhava por meio do projeto “Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade” e, mesmo após ser desligado com o benefício do livramento condicional, continuou prestando seus serviços. “Ganhei credibilidade e confiança pelo trabalho que venho executando desde 2017. Agora fui contratado e já estou atuando na reforma da sexta escola consecutiva”, conta.
Desde 2014, o projeto Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade usa a mão de obra de detentos para reformar escolas. E é o dinheiro dos próprios presos que pagam pelas intervenções, a partir do desconto de 10% no salário de todos os internos que trabalham de forma remunerada. O projeto é executado pelo Governo do Estado, por meio da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) e da SED (Secretaria de Estado de Educação), em parceria com o Tribunal de Justiça.
Cumprindo pena há 17 anos, Faiçal acredita que a ressocialização é possível através de oportunidades como essa. “Sou prova disso. O projeto transforma o ser humano, não é apenas transformação predial, é de caráter e de pessoas. Ele nos mostra que é possível ter uma vida diferente, basta abraçarmos a oportunidade. A experiência que adquiri aqui abriu novos horizontes para mim no campo comercial, profissional e conquistei o mercado de trabalho”, comemora o apenado, que atua como eletricista há mais de 26 anos.
De vilão a herói
Pai de seis crianças, Faiçal se emociona ao lembrar de seu passado para chegar onde está hoje. “Agora posso dizer que sou o herói deles, porque um dia vou contar a eles o que eu precisei passar para me tornar o homem que eu sou hoje. Na vida não podemos pegar atalhos, temos uma linha e ordem a ser seguida. Isso, eu quero ensinar a eles. Hoje olho para o meu passado e afirmo com muito orgulho: eu consegui. Cheguei até aqui e mudei completamente a minha vida”, revela.
Além da reforma de escola, o trabalho dos presos em Mato Grosso do Sul estão em projetos como “Educação Lúdica com Brinquedos Pedagógicos” e “Costurando o Bem”, por meio dos quais os internos confeccionaram 600 brinquedos em madeira e 1000 em crochê para uso coletivo em escolas de Educação Infantil, beneficiando cerca de 6 mil crianças.