As linhas a seguir levam em conta as dificuldades da seleção brasileira no horroroso gramado da Arena do Grêmio e analisam problemas e soluções alheias à superfície para que um futebol mais vistoso possa ser exibido na semifinal, contra Argentina ou Venezuela.
É verdade que o gramado ruim afetou as duas equipes no 0 a 0 de Brasil x Paraguai. E é evidente que o mais prejudicado foi quem teve a bola por mais de 70% do tempo. Ainda sem saber que piso encontrará no Mineirão, terça-feira, a Seleção tem de procurar ajustes, sobretudo nos setores de criação e conclusão.
Em sua nova forma de atuar, há dois pontas: um deles fortíssimo em jogadas individuais e capaz de ir à linha de fundo por meio do drible (Everton ou David Neres), e outro cuja missão é se juntar a Firmino para tornar a área povoada quando a equipe se aproxima dela com a bola dominada (Gabriel Jesus ou Richarlison).
Só que Arthur e Coutinho, meias mais criativos, insistiram demais, novamente, no jogo por dentro, onde até o mau estado do gramado torna as coisas mais difíceis, pela necessidade de passes mais rápidos diante de uma maior concentração de jogadores paraguaios.
Os dois precisam alternar movimentações centrais com triangulações pelos lados, para que nas pontas o Brasil possa ter mais jogadores do que o rival. Isolado, Everton Cebolinha não teve contra Piris o mesmo êxito do duelo com o peruano Advincula. Gabriel Jesus, na direita, hesitou três vezes até tentar o lance individual. Um resultado dessa carência? A Seleção só cobrou seu primeiro escanteio aos 15 minutos no segundo tempo.
Por vezes, Coutinho recebeu marcação individual de Richard Sánchez, em início impecável. Poderia tê-lo arrastado de um lado para o outro e aberto espaço para os laterais receberem centralizados. Como Daniel Alves, logo no início. Veja, na foto abaixo, seu posicionamento ao ser acionado por Everton. Na sequência, Firmino recebe e bate para boa defesa de Gatito.
Lá pelos 30 minutos, Tite inverteu Everton e Gabriel Jesus, naquele que é um vício do 4-2-3-1. Quando as coisas não vão bem, troca-se os atacantes de lado. Raramente funciona porque os meio-campistas continuam longe. Não deu outra.
Na etapa final, a Seleção já era melhor antes da justa expulsão de Balbuena. Aliás, Firmino provavelmente faria o gol se não fosse derrubado pelo ex-zagueiro do Corinthians. Em vez de só receberem a bola nos pés, os atacantes passaram a se projetar para serem acionados em velocidade, o que dificultou a boa marcação do Paraguai.
Com um a mais em campo, Willian substituiu Allan. Boa mexida de Tite, mas houve uma inclinação à direita. Everton ficou um tanto esquecido. Com Daniel Alves posicionado como volante, Marquinhos cobrindo a lateral direita e Thiago Silva zagueiro único, o Brasil invadiu o campo e a a área do Paraguai na marra. No quadro abaixo, quando Everton cruza da esquerda, 9 dos 10 jogadores de linha estão no quadro. Só Willian, próximo ao bico direito da pequena área, não aparece.
As finalizações foram o pecado. Ficou a impressão de demora, hesitação, segundos fatais de atraso que possibilitaram a chegada ou o bloqueio dos defensores. É justo dizer: o gramado pode ter, sim, culpa nesse atraso das conclusões. Assim como foi justíssima, mesmo nos pênaltis a classificação da equipe que tentou jogar e ainda não sofreu gols, e não daquela que não venceu nenhuma partida na Copa América.
Mais justo ainda é enaltecer a atuação dos defensores. Pode parecer estranho: por que eles foram tão bem se o Paraguai pouco ameaçou? Na verdade, o Paraguai pouco ameaçou porque eles foram soberanos, mesmo sem Casemiro e Fernandinho, com Allan na função de primeiro volante – a Seleção continuou se defendendo no 4-1-4-1 até Balbuena ser expulso.
Bem antes de pegar o pênalti de Gustavo Gómez, Alisson fez grande defesa em finalização de Derlis González, no primeiro tempo, no único lance de vacilo coletivo.
Repare, abaixo, no espaço entre Daniel Alves e Thiago Silva, na linha defensiva de quatro, e em como Everton não acompanha a infiltração dos paraguaios no segundo pau.
Daniel Alves teve imprecisão em alguns passes, mas competiu como nos melhores dias. Filipe Luís era quem flutuava por um setor de criação muitas vezes desértico. Caso não possa disputar a semifinal, lesionado, será um desfalque extremamente sentido.
Marquinhos e Thiago Silva merecem aplausos de pé. Velozes e bem posicionados, não permitiram que a má sincronia e os passes sem direção dos companheiros no primeiro tempo se transformassem em contra-ataques perigosos do Paraguai. Saíram jogando sempre pelo chão, sem sacrificar a posse de bola, e corajosos para manter o estilo mesmo depois de erros – um de cada. Também inverteram o lado, possivelmente para frear a saída em velocidade de Derlis, pela direita do ataque. Mais jovem e leve, Marquinhos passou a atuar por ali.
No segundo tempo, Marquinhos, o melhor em campo, participou ativamente da circulação de bola ofensiva, sendo mais um meio-campista. Encontrou, inclusive, ótimo passe vertical para Coutinho, daqueles que poucos armadores enxergam. E Thiago Silva deu conta, sozinho na zaga.
Depois de quatro jogos, o Brasil não sofreu gols. O brilhantismo individual dos atletas e a competência da comissão técnica em dar segurança a qualquer modelo é o que tem sustentado a busca por ajustes ofensivos. Que venham num gramado melhor.