Resultados para validação do zoneamento agrícola de risco climático (ZARC) do consórcio milho-braquiária de 2ª safra (safrinha) para Mato Grosso do Sul foram apresentados on-line, no último dia 23 de setembro de 2021. A videoconferência reuniu técnicos da assistência técnica, além de representantes do governo, cooperativas e consultorias.
Esse evento que tem como objetivo saber se os resultados e definições estão coerentes, se representam a realidade dos cultivos. A abertura da Reunião foi realizada pelo pesquisador Carlos Ricardo Fietz, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), unidade organizadora da reunião. “O ZARC é mais conhecido por indicar as melhores épocas de semeadura para a redução do risco climático, mas também indica práticas de manejo visando ao aperfeiçoamento das práticas de produção”, disse.
Desde a década de 1990, o ZARC é usado nas políticas agrícolas. O milho safrinha em MS é muito importante, depois da soja. Tem uma área plantada de 2 milhões de hectares. “Há uma dificuldade em saber quanto dessa área total de milho é consorciado ou é milho solteiro. Em 2017, há um trabalho do Gessí Ceccon que mostrou que a área com consórcio era de 50%. Temos que atualizar esses dados”, afirmou Fietz.
O ZARC é uma ferramenta em constante evolução. Hoje nós vamos apresentar recomendações das épocas mais favoráveis do plantio revisadas. A introdução de reuniões de validação permite a participação dos usuários e possibilita ajustes desde que haja justificativa técnica.
O zoneamento agrícola de risco climático
A primeira apresentação foi do analista Balbino Antônio Evangelista, da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO). Ele explicou que para validar o ZARC existe orientação do MAPA para que os representantes da cadeia produtiva saibam o que é o Zarc, como ele é elaborado e com isso, possam avaliar os resultados e apontar se representam ou não a realidade do campo, dos cultivos. Possíveis ajustes são realizados antes do estudo final ser enviado ao MAPA para publicação.
É um projeto coordenado pelo Mapa e executado pela Embrapa e parceiros. Esse trabalho integra a Rede ZARC, cooperação técnica e institucional. Fazem parte da Rede ZARC o Banco Central do Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Fundação de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento (Faped). “Desde de 18 de junho de 2019, há um decreto Presidencial que normatiza o ZARC no âmbito do Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Agroclimático e coube à Embrapa a coordenação técnico-científico e a operacionalização dos estudos. Para isso, dentro da Embrapa, há 32 Unidades que formam uma rede envolvida neste trabalho”, explicou Evangelista.
Estudos apontam que o Brasil perde R$ 11 bilhões por ano devido a extremos climáticos (deficiência hídrica, geadas, temperaturas altas, granizo e vendaval). “Daí a importância de organizar informação, dados, pesquisa e ciência no âmbito da agricultura”, disse Evangelista. Dentro dos fatores que controlam a produtividade está o clima. O clima é responsável por 70% a 75% das produtividades.
“Podemos usar o melhor cultivar, definir o melhor espaçamento e população de plantas, a melhor adubação, usar o melhor sistema de plantio, convencional ou Plantio Direto, controle de pragas e doenças, mas as adversidades climáticas são fator determinante e incontroláveis. Precisamos entender o clima para tentar evitar o impacto nos momentos críticos da lavoura e com isso perder rendimento. É baseado nisso que geramos o zoneamento”, falou o analista.
A probabilidade de sucesso dos cultivos agrícolas tem que ser acima de 60%. No cenário de análise, são considerados tipos de solo (atualmente, são três, futuramente, pode chegar a dez), ciclo das cultivares e clima. “O ZARC é um grande indutor de tecnologia e eficiência”. Relatório do TCU aponta que entre 1991 a 1998 as perdas com o zoneamento agrícola reduziram de 11,5% para 2,7%, considerando a média de algumas culturas amparadas pelo seguro rural (Proagro).
Metodologia
O ZARC usa os modelos agrometeorológicos, séries históricas de dados (próximo a quatro mil postos pluviométricos para subsidiar os estudos pelo Brasil), e estimativas de evapotranspiração de referência.
O balanço hídrico da cultura leva em consideração o clima (precipitação pluviométrica e evapotranspiração de referência – ETo), o solo (profundidade do perfil e capacidade de armazenamento de água – CAD) e a cultura (ciclo: precoce, médio; fases fenológicas: I, II, III e IV); coeficiente de cultura (Kc) e profundidade do sistema radicular. São considerados três tipos de solos: textura arenosa (Tipo 1), textura média (Tipo 2) e textura argilosa (Tipo 3). O CAD em milímetros, analisado na cultura do milho solteiro foi de 30 mm no solo tipo 1, enquanto o consórcio de milho com braquiária foi de 36,4 mm. No solo tipo 2, o CAD do milho foi de 47 mm e no consórcio, 57,2 mm. No solo tipo 3, o CAD do milho foi de 72 mm e o do consorcio, 78 mm.
Para a modelagem desse estudo, foi realizada a determinação dos parâmetros do solo e da cultura, como a água disponível, fases fenológicas da cultura e curvas de crescimento e consumo de água; assim como a definição dos critérios de decisão e risco: limites hídricos e térmicos, geada, temperatura, etc., níveis de corte e de risco, entre outros.
“Para avaliar os riscos de ocorrência de falta de chuva nas fases de semeadura, desenvolvimento inicial das plantas, e também nas fases de florescimento e enchimento de grãos, e indicar as janelas de plantio, utiliza-se um sistema de análise regional de risco agroclimático”, relatou Evangelista. Com a validação dos dados, de acordo com os resultados e realidade do campo, é possível que o produtor seja beneficiado por programas como PSR, Proagro, Proagro+ e Seaf.
Condição de plantio
O pesquisador Éder Comunello, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), tratou da revisão do zoneamento, apresentando o risco associado a diferentes épocas de plantio, ciclo e tipo de solo em Mato Grosso do Sul.
“Em termos gerais, houve grandes avanços no novo zoneamento, sobretudo para solos argilosos e mistos, referidos como tipos 2 e 3. Nessas condições, o limite superior da janela de plantio foi ampliado em até dois decêndios, encerrando-se no final de março. A partir de abril a janela se fecha devido aos grandes riscos de ocorrência de geada no período de enchimento de grãos”, explicou Comunello.
Houve grande preocupação dos participantes com os resultados apresentados para solos do tipo 1 (arenosos), indicando uma grande demanda por esses ambientes para produção de milho em consórcio. “Infelizmente, dadas as características naturais desses solos, que comprometem o armazenamento de água, os resultados apresentados são bem mais restritivos, do que nos solos 2 e 3, e trazem grandes riscos de insucesso”, disse o pesquisador. Nesse ponto, os pesquisadores da Embrapa Silvando Carlos da Silva e Balbino Evangelista informarão que, em breve, o ZARC passará a considerar práticas de manejo em sua modelagem, o que poderá melhorar a janela de plantio nesses ambientes, desde que adotada a tecnologia apropriada.