O médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e professor da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) explica porque o lockdown funciona para frear a disseminação da Covid-19.
“Mesmo que a população adote 100% das medidas preventivas, que são: usar máscara, lavar as mãos, usar o álcool em gel, fazer o isolamento social, o vírus tem transmissão respiratória, então quando se reduz a mobilidade, o resultado é imediato. Quanto maior a adesão da população ao lockdown, menor a chance do vírus ser transmitido. Dourados é exemplo para todo Estado, porque com o lockdown vai diminuir a transmissão da doença”, destaca Croda.
O prefeito de Dourados, Alan Guedes, decretou lockdown por 14 dias no município desde domingo (30) para frear a disseminação da Covid-19. Segundo o último Prosseguir (Programa de Saúde e Segurança da Economia de Mato Grosso do Sul), Dourados foi classificado na bandeira Cinza, considerado o grau extremo de contaminação.
“Quando se chega a uma elevada transmissão do vírus, não se tem outra solução que não seja o lockdown. E quanto mais restritivo ele for, mais rápido se consegue sair da situação. Na verdade, o lockdown só é efetivo quando realmente a maioria das atividades é interrompida para que não haja contato entre as pessoas”, destaca.
E para quem ainda dúvida da eficácia da medida, que é considerada a mais severa no enfrentamento da pandemia, o pesquisador responde: “Temos dados científicos que comprovam que a medida funciona sim, se a população unida adotá-la. Por exemplo, a cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, conseguiu resultados positivos com o lockdown e também, o próprio Mato Grosso do Sul quando adotou a medida teve uma grande redução de casos de Covid-19. Além disso, a própria OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda quando a saúde chega a um ponto de colapsar. E não existe nenhum país registrado no mundo que venceu o vírus aumentando leito de hospital”, afirma.
De acordo com o infectologista e pesquisador da Fiocruz, 20% das pessoas contaminadas pelo vírus vão precisar de internação. Em Dourados, temos uma média de 200 novos casos da doença por dia e uma média de 50 pessoas na fila de espera por uma vaga de UTI Covid.
“Não temos a imunidade de rebanho e a nova variante P1 de Manaus, que é considerada a mais transmissível, esta circulando no Estado e quanto mais o vírus circular, maior o colapso no sistema de saúde. É constatado que 20% das pessoas contaminadas pelo vírus vão precisar de internação hospitalar e 1% vão morrer. O prefeito Alan é muito corajoso e eu desejo que ele aguente firme nessa decisão, porque ele vai colher os frutos positivos dessa atitude”.