A prefeitura de Dourados, através do Imam (Instituto de Meio Ambiente de Dourados), realizou na última semana de 2021 a doação de insumos para a produção de 1,5 mil mudas de espécies nativas nas aldeias Jaguapirú e Panambizinho, localizadas no município. A estratégia do Imam é promover a rearborização das margens e nascentes dos córregos periurbanos, em especial aqueles contribuintes da Bacia do Córrego Laranja Doce.
De acordo com o diretor-presidente do Imam, Wolmer Sitadini, a ação contou com a participação da comunidade indígena nos projetos, já que são aqueles que vivem nas principais nascentes desta bacia. “Foi um trabalho construído em conjunto, em sintonia com o Poder Executivo, Imam e a comunidade indígena”, reforçou.
O geógrafo do Instituto e responsável pela execução da ação, Cristiano Rodrigues, ressalta que devido a grande demanda por mudas nativas, o fim de ano foi de trabalho para coleta de algumas sementes nativas da região, visando a produção de mudas, já no início de 2022.
“Reflorestar é preciso e a população tem nos procurado, o que nos motiva. Nosso desafio é a redução de custos diante da escassez geral de recursos e mão de obra, principalmente em um contexto de pandemia e contenção de gastos públicos, é neste momento que entra a gestão criativa dos recursos”, pontuou.
Para esta ação o Imam destinou 48 sacos de substrato concentrado e 1,5 mil unidades de saquinhos próprios para produção de mudas, um investimento de aproximadamente R$ 3 mil, oriundo de recursos de compensações ambientais. O investimento representa economia aos cofres públicos, já que a aquisição desse montante de mudas prontas, custaria no mínimo R$ 30 mil, ou seja, a cada R$1 investido na produção em parceria economiza-se outros R$9.
Já a escolha de datas para realizar a ação se deu devido ao curto prazo de viabilidade de germinação das sementes. Com a parceria metade da produção das mudas já germinadas retornará para a prefeitura onde serão acondicionadas em viveiro até seu ponto de plantio.
“A ideia é que as mudas retornem para as aldeias para implantação de SAFs [Sistemas Agroflorestais] em parceria principalmente com a Professora e Dra. Zefa Valdivina Pereira, mulher atuante, e uma das mentoras do projeto Nascente Viva que trabalha pela recuperação das margens e nascentes do Córrego Jaguapirú”, destacou Cristiano.
Participação da comunidade indígena
A comunidade indígena foi parceira da ação, a iniciativa ainda devolve o papel de produtor da comunidade, em que eles deixam de receber uma muda pronta e passam a produzir a muda desde a fase de germinação da semente.
“Esta ação foi construída em conjunto da comunidade indígena, ouvindo suas demandas pela multiplicação de árvores nativas cujo uso fazem parte da cultura tradicional. Em uma conversa com um dos moradores da aldeia Jaguapirú, Enivaldo Reginaldo, falamos sobre a possibilidade de produzir mudas no fundo dos quintais e foi então que surgiu a ideia de reunirmos esforços para fazer a doação dos insumos, já que o embrião da vida, ou seja a semente, estava ao alcance dos nossos olhos e mãos”, apontou o geógrafo Cristiano Rodrigues.
O indígena da cultura guarani e morador da aldeia Jaguapirú, Enivaldo Reginaldo, relatou a importância de ações como essa que, além da doação de mudas, promovem o “empoderamento indígena” e o espírito de comunidade, que é sinônimo de segurança alimentar e hídrica, promovendo qualidade ao ambiente e natureza como recurso para o bem viver.
“No meu quintal eu tenho de tudo um pouco e quero que meus irmãos indígenas também tenham. Produzindo algumas mudas no fundo do meu quintal, como por exemplo mudas de Pitomba, Pacurí, Jenipapo, Jatobá, Coquinho, Jaracatiá, posso doar parte delas aos meus parentes e amigos, para que eles também desfrutem do que tenho hoje”, contou.
Já para o indígena da cultura kaiowá e morador do território indígena Panambizinho, Anastácio Peralta, o ato de plantar é como poesia. “Vejo nesta ação um projeto de futuro, o futuro da semente plantada. Recuperação ambiental, hoje é também recuperar a vida, não só da terra, da mata, mas do ser humano também. Isso nos traz vida, recupera a água e o clima, plantar uma muda, uma semente, é plantar uma alma que pode dar continuidade de vida no planeta, principalmente garantir a água, que tem um grande valor para todos os seres vivos, vive no corpo da gente, evapora no ar, se transforma em nuvem de amor para cair em chuva, fazer brotar, desabrochar as flores e se tornar alimento para todos nós”, destacou.
As árvores são essenciais para a vivência humana fornecendo conforto térmico com sua sombra, madeira para construção, matéria prima para artesanato, tinturas, frutos comestíveis, lenha, dentre outras coisas. Neste contexto arborizar é preciso e os caminhos para isso devem ser buscados para a construção de uma melhor qualidade de vida.
“Nosso foco principal tem sido o reflorestamento através de mudas. Este ano de 2021 realizamos diversas parcerias nas quais distribuímos diversas mudas, além daquelas que são doadas pelo Imam. Nosso trabalho é para que elas cresçam e se tornem lindas árvores. Para 2022, buscamos contar ainda mais com o apoio de todos para transformar o meio ambiente em um lugar melhor para a população douradense”, concluiu o diretor-presidente do Imam, Wolmer Sitadini.