No mês de julho deste ano, a Editora Urutau publicou uma chamada que receberia livros originais de autores que residem nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal até o dia 7 de agosto. Com cerca de 500 títulos em seus catálogos, a Editora Urutau tem autores e autoras do Brasil, Portugal, Galiza, Moçambique, Cabo Verde. As linhas principais da editora são poesia, novela, contos, artes visuais e política.
Em 5 de outubro, então, saiu o resultado da chamada. Entre 13 autoras e autores, a sul-mato-grossense Rebecca Loise foi selecionada para publicar seu primeiro livro literário. Rebecca nasceu em Dourados, Mato Grosso do Sul, em 1989. É escritora, psicóloga, psicanalista, artista da cena e do corpo. Morou em São Paulo dos 17 anos aos 25 anos, onde graduou-se em Psicologia e concluiu seu mestrado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Voltou a residir em Dourados em 2015 para trabalhar como professora de Psicologia, psicóloga e psicanalista. Em 2020, através da internet, voltou a atuar como atriz e performer em produções audiovisuais. Atualmente atende em consultório on-line, é colunista do Jornal Folha de Dourados, atua, performa e dedica-se à área de pesquisa e de criação artística em Arte & Psicanálise.
O livro de estreia de Rebecca se chama “Engordei o sol noturno”. O livro está em fase de pré-venda pelo site da Benfeitoria. Para reservar seu exemplar, basta clicar neste link: https://benfeitoria.com/engordei. Para a reserva, é possível escolher entre oito opções, de R$ 20,00 a R$ 200,00, com variadas recompensas (livro em versão e-book, livro em versão física, livro autografado e mais pequenos mimos da Editora Urutau). Restam apenas 11 dias para a campanha da pré-venda chegar ao fim.
O lançamento físico e on-line do livro está previsto para o primeiro semestre de 2022.
Engordei o sol noturno “é composto por textos curtos e arrebatadores que versam sobre atos e gestos de uma voz narrativa que nos conduz, em primeira pessoa, a conhecer os espaços íntimos de si”, assina Maisa Barbosa na orelha do livro. No prefácio, a escritora e psicóloga Christine Gryschek situa que “neste livro, o lugar de submissão, o sentimento de fragilidade e a sensibilidade — que vai sempre do pessoal ao político — são piscares de luzes que convocam a uma reflexão política através da poética e da estética da escritora: assim as luzes piscam sobre as práticas sexuais, sobre os déficits afetivos, sobre os sentimentos de culpa, sobre o lugar de submissão, holofantizando com belíssimas metáforas o modo como é construído socialmente o papel da mulher e os sentimentos que a ela deveriam pertencer.” Abaixo, segue um trecho do livro:
“Preciso arranjar um jeito de te contar como me sinto. Você já sacou que quando durmo com você ou eu não durmo ou, se durmo, tenho pesadelos. Você disse: “quero te proteger”. Mas parece que eu é que tenho que me proteger de você. Talvez aí more a filosofia: para que rimar amor e dor? Isso aqui é um lirismo de libertação. Tentei te dizer alguma coisa hoje: “eu acho que…”. Você disse: “acha que?”. Eu disse: “preciso elaborar melhor”. Você silenciou depois disso, de nada dito. O que será que você que entendeu deste meio-dito para dizer do não-dito? Paguemos com carne de alma para ver. Adiantei o dia minimamente depois deste escrito. Achei tua camiseta de dormir pendurada na cadeira da sala (que havia posto para secar depois da toalha úmida de água morna que pus no teu peito). Senti teu cheiro de homem. Você tem cheiro de homem, falta só ser uma espécie de homem para ser o meu homem.”
O livro também tem posfácio assinado por Rita Isadora Pessoa, poeta e pesquisadora, e um ensaio psicanalítico inspirado pela obra de Priscila Venosa, psicanalista e escritora.
É urgente que incentivemos a voz e o espaço que uma mulher abre quando resolve expor sua resistência feminina-feminista num país que está entre os cinco com mais casos de feminicídio no mundo.