Sérgio Queiroz afirma que ex-jogador foi abordado por intermediários que pediram até US$ 1 milhão para acabar com o processo
O advogado Sérgio Queiroz pousou às 22h da noite desta terça-feira em Porto Alegre, depois de meses morando em Assunção liderando a defesa de Ronaldinho Gaúcho e de seu irmão Roberto Assis da acusação de uso de documento falso. Entre exausto e aliviado, Queiroz decidiu revelar os bastidores do processo do ídolo brasileiro, que deixou o Paraguai com um forte sentimento de que foi injustiçado.
"Ronaldo foi a vítima. Ele foi usado como cortina de fumaça pelas autoridades paraguaias para encobrir algo maior", afirmou Queiroz à coluna, em uma entrevista exclusiva.
Disse mais: os documentos adulterados foram produzidos pelo próprio governo paraguaio. E afirma que Ronaldinho foi coagido e abordado por intermediários que pediram até US$ 1 milhão para acabar com o processo.
Como está Ronaldinho Gaúcho?
Ele está com um grande sentimento de injustiça. Ronaldo foi a vítima. Ele foi usado como cortina de fumaça pelas autoridades paraguaias para encobrir algo maior. Os dois não sabiam que o passaporte que as pessoas que lhes convidaram para o Paraguai haviam conseguido para eles era falso.
Como ocorreu tudo? Qual foi a dinâmica dos fatos?
Os dois chegaram ao Paraguai em março, convidados para serem garotos propaganda de um cassino e de um livro que seria lançado, e apresentaram os passaportes e entraram. Os passaportes haviam sido oferecidos e obtidos pelas pessoas que fizeram o convite para o evento do lançamento do livro. Os anfitriões do cassino em que eles seriam garotos propagandas não tiveram nada a ver com o passaporte falso. Ronaldinho e Assis também nunca souberam que eram adulterados. Naquela noites foram detidos. Eles imediatamente disseram não saber serem falsos os passaportes, aceitaram pagar a multa e foram liberados para deixar o país. Teriam pagado a multa no dia 6 de março mesmo e retornado ao Brasil, mas foram em seguida presos, sob a desculpa de que poderiam estar envolvidos em crimes de lavagem de dinheiro. Mas nunca houve nenhum indício para embasar essas suspeita. Nesses seis meses em que eles ficaram presos, nada nos foi apresentado. E agora eles pagaram exatamente a multa que já haviam aceitado pagar em março, foram absolvidos e novamente autorizados a retornar ao Brasil.
Como era de fato esse esquema dos passaportes falsos?
As pessoas que convidaram Ronaldo e Assis entregaram os passaportes prontos. Eles não sabiam que eram falsos. Sempre colaboraram com a Justiça. Isso ficou claro para a Justiça. Os documentos foram produzidos dentro do governo Paraguai e uma das investigadas, uma brasileira, foi ao Paraguai pegar os documentos e trouxe para o Brasil, quando eles foram entregues aos dois, para que eles pudessem entrar no país. Não é como seu eu fosse numa lan house, imprimisse um documento falso e usasse para entrar no País. Os passaportes falsos desse esquema eram feitos e saíam adulterado do próprio governo paraguaio. Isso tem que ficar claro.
Houve algum pedido de propina ou algo parecido?
Nenhuma autoridade nos procurou diretamente pedindo propina. Existiam muitos aventureiros, intermediários que chegavam vendendo todo tipo de facilidade. Pedidos de dinheiro para resolver tudo. Houve quem pedisse US$ 200 mil, US$ 300 mil e até um pedido de US$ 1 milhão.
Alguma vez ofereceram a possibilidade de fuga?
Ofereceram a Ronaldinho que ele saísse do Paraguai, por via terrestre até a Argentina ou até o Brasil antes que saísse a ordem de prisão que o deixou preso por seis meses no Paraguai. Ele se negou. Isso aconteceu no dia 6 de março (a data da prisão e data em que Ronaldinho voltaria ao Brasil, por estar autorizado pela Justiça para tal). Ofereceram a ele retornar diretamente ao Brasil, via terrestre, de carro. E Ronaldo disse que não. Disse "Se tem algum problema, vou esperar. Nunca vou sair daqui pela janela. Entrei pela porta da frente e vou sair pela por da frente". E ficou lá.
O que a defesa aguarda agora?
Como advogado do Ronaldo e do Assis, quero que, da mesma maneira que a Justiça foi feita com eles, e eles colaboraram, entregando voluntariamente os celulares deles para perícia, queremos que o Ministério Público e a Justiça atuem, que sejam diligentes e duros para investigar aos demais. Essa justiça tem que se aplicada também aos verdadeiros responsáveis pela adulteração dos documentos.
Ronaldinho Gaúcho e Assis pensam em processar o Paraguai, uma vez que se consideram vítimas?
Não descartamos isso, mas nada está decidido.
Quais são os próximos passos?
Agora tudo que ele quer é descansar e tocar a vida dele.
(Guilherme Amado - EPOCA)