Segundo o estudo do Ipea, o Brasil começou a liderar a produtividade mundial a partir dos anos 2000, superando Estados Unidos e China
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou nesta quinta-feira (2), um estudo que analisa a produtividade total dos fatores (PTF) na agricultura brasileira. O texto foi elaborado em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-USP).
A produção agrícola brasileira apresentou, de 1975 a 2020, um aumento de 400%. De acordo com os autores, o crescimento médio da PTF nesse período foi de 3,3% ao ano.
A PTF é a relação entre o índice de produto total e o índice de insumos. Ela é calculada pela diferença entre as taxas de crescimento do produto total e dos insumos.
A PTF explicou 87% do aumento do produto no período estudado, enquanto os insumos corresponderam apenas a 13%.
No contexto da produção agropecuária nacional, a expansão do capital na forma de máquinas, fertilizantes e defensivos tem superado o crescimento dos demais fatores, como terra e mão de obra.
“Podemos afirmar que nossa produção é intensiva em ciência e tecnologia e cada vez menos intensiva em fatores tradicionais. Essa dinâmica resulta em uma enorme ampliação da produtividade do trabalho ao longo do tempo”, afirmou José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, pesquisador do Ipea e um dos autores do estudo.
O Brasil promoveu várias reformas no sistema de pesquisa e de financiamento da produção. Destacam-se as políticas de crédito e seguro, de preços, de corte dos subsídios, dentre outras.
Além disso, tem havido aumento de recursos, com ênfase no crédito de investimento, em linhas de financiamento que atendem os diferentes portes produtivos, bem como em áreas que estimulam a agricultura de baixo carbono.
José Garcia Gasques, coordenador-geral de Políticas e Informações do Mapa, explicou que “os investimentos na pesquisa, na fixação biológica de nitrogênio, na adoção do plantio direto e na manutenção dos sistemas integrados (lavoura-pecuária-florestas) mostraram-se bastante viáveis para as condições tropicais do país”.
Segundo ele, esses sistemas produtivos trouxeram acentuados ganhos de produtividade da agropecuária nacional.
Produtividade
O crescimento da produtividade, sustentam os autores da pesquisa, possibilitou a competitividade da agricultura e permitiu que os alimentos se tornassem mais abundantes e baratos.
“Se não fosse a redução da participação dos alimentos na renda das famílias desde a década de 1970 (de 50% para 20%), as políticas de transferência de renda, que ganharam força a partir do final da década de 1990, não teriam a eficácia que tiveram, sem a queda no preço dos alimentos e a expansão da oferta produtiva de bens agropecuários”, disse José Eustáquio.
Entre 1995 e 2017, para um crescimento de 100% no valor bruto da produção, a participação da tecnologia subiu de 50% para pouco mais de 60%. Nesse mesmo período, a participação do fator trabalho diminuiu de 31% para menos de 20%, enquanto a participação do fator terra praticamente ficou estável em 20%.
No comparativo internacional, o Brasil apresentou um crescimento da PTF superior à média mundial, ficando entre os países que mais cresceram da década de 1970 em diante.
O Brasil, revela o estudo, começou a liderar a produtividade mundial a partir dos anos 2000, quando passou a crescer acima da taxa apresentada pelos principais produtores mundiais, como Estados Unidos, China, Argentina, Nova Zelândia, Austrália, Canadá e Chile, dentre outros. Entre 2000 e 2019, enquanto a PTF brasileira cresceu cerca de 3,2% ao ano, o mesmo indicador mundial ficou em torno de 1,7%.
A análise do crescimento para produtos selecionados mostra uma nova geografia da produção nacional, com destaque para a soja, a cana-de-açúcar e o milho, deslocando-se para áreas do Norte, do Centro-Oeste e dos cerrados nordestinos. Essas novas regiões também lideram o crescimento da produtividade no país, conforme constatado nos dados do levantamento censitário agropecuário do IBGE.