Uso de gramado sintético no futebol gera debates sobre desempenho e padrão internacional

A discussão sobre o uso de gramados naturais, híbridos ou sintéticos vai além das fronteiras brasileiras e mobiliza as principais ligas de futebol no mundo. Entre os pontos centrais estão a qualidade do jogo, os custos de manutenção e o impacto nas condições físicas dos atletas. A decisão sobre qual tipo de campo utilizar, no entanto, varia conforme regras locais e internacionais, além de fatores como clima e orçamento dos clubes.

Padrão nas grandes ligas europeias

Nas principais ligas da Europa, como Premier League (Inglaterra), LaLiga (Espanha), Bundesliga (Alemanha), Série A (Itália) e Ligue 1 (França), há uma clara preferência pelos gramados naturais ou híbridos. Este último é composto majoritariamente por grama natural reforçada por fibras sintéticas para dar maior estabilidade ao campo.

Na Espanha, a partir de 2031, será proibida a instalação de novos gramados com partículas de enchimento microplásticas, o que incentivará o uso de gramados naturais ou híbridos. Na Holanda, os clubes da Primeira Divisão já concordaram em padronizar o uso de grama natural a partir da temporada 2025/2026. A Itália, por sua vez, não proíbe o uso de gramados artificiais, mas apenas o Cesena, da Série B, utiliza esse tipo de superfície.

A Liga dos Campeões, competição de clubes mais importante do mundo, permite gramados sintéticos nas fases iniciais, mas as finais obrigatoriamente devem ser disputadas em gramados naturais. A única exceção ocorreu na temporada 2007/2008, na final entre Manchester United e Chelsea, realizada no estádio Luzhniki, em Moscou, que tinha gramado sintético.

Posição da Fifa sobre gramados sintéticos

A Fifa reconhece três tipos de gramados para a prática profissional de futebol: natural, híbrido e sintético. Os clubes que optam por gramados sintéticos devem ter certificação "Fifa Quality Pro", exigida para competições internacionais e jogos profissionais. Essa certificação garante padrões de desempenho, segurança e durabilidade.

A entidade oferece outras duas certificações: "Fifa Quality", para jogos recreativos, e "Fifa Básica", voltada ao uso comunitário. A Fifa também estabelece requisitos básicos para instalação, como drenagem eficiente e camadas de nivelamento e estabilidade. Manutenção regular, remoção de detritos e resfriamento do gramado em dias quentes são recomendados para garantir a longevidade do campo.

Apesar de não adotar um único padrão, a Fifa busca oferecer soluções que considerem as diferenças climáticas e econômicas ao redor do mundo, especialmente em países com climas extremos, como Rússia e Emirados Árabes, onde os gramados sintéticos são mais comuns.

A realidade brasileira

No Brasil, quatro estádios de grandes clubes utilizam gramado sintético: Allianz Parque (Palmeiras), Ligga Arena (Athletico-PR), Nilton Santos (Botafogo) e MRV Arena (Atlético-MG). Todos os clubes garantem seguir os padrões "Fifa Quality Pro" para seus gramados.

Palmeiras, Botafogo e Athletico-PR utilizam gramado sintético há anos, enquanto o Atlético-MG adotou recentemente a mudança após dificuldades com a manutenção de grama natural em sua nova arena. O Corinthians, por sua vez, utiliza grama mista, composta por 96% de grama natural e 4% de fibras sintéticas, que ajudam na estabilidade das raízes.

O uso de gramado sintético ainda provoca debates no país. Atletas e técnicos expressam opiniões divergentes sobre a influência desse tipo de campo no desempenho e nas condições físicas. Em 2023, por exemplo, jogadores de clubes adversários reclamaram de dores musculares após partidas realizadas em gramados sintéticos.

Tendência para o futuro

O futuro dos gramados no futebol caminha para uma maior padronização e controle de qualidade. A expansão de gramados híbridos, que unem a estabilidade da grama sintética com a estética e o desempenho da grama natural, é uma tendência observada em diversas ligas internacionais.

Embora os gramados sintéticos tenham se mostrado uma alternativa viável em condições adversas, a preferência por gramados naturais, especialmente em competições de alto nível, ainda prevalece. No Brasil, o debate continua, mas a busca por melhor desempenho e segurança para os atletas seguirá moldando as decisões dos clubes nos próximos anos.