A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) elegeu neste domingo (19) Samir Xaud como novo presidente da entidade máxima do futebol nacional. Ex-dirigente da Federação de Roraima, Xaud foi candidato único no pleito realizado na sede da CBF e assume o cargo com mandato válido até 2029. Ele recebeu 103 dos 141 pontos possíveis, sem alcançar unanimidade, como na eleição anterior, que reconduziu Ednaldo Rodrigues à presidência.
A votação contou com a presença de 26 federações estaduais e 20 clubes. Conforme o peso estabelecido para cada voto – três pontos para federações, dois para clubes da Série A e um para os da Série B –, o colégio eleitoral somava 108 pontos. A ausência de parte dos clubes, que haviam manifestado apoio a Reinaldo Carneiro Bastos e decidiram boicotar o processo, comprometeu a totalidade do quórum. Cruzeiro, Operário e Santos foram as exceções e participaram da votação.
Ao lado de Xaud, foram eleitos oito vice-presidentes: Ednailson Leite Rozenha, Fernando José Macieira Sarney, Flávio Diz Zveiter, Gustavo Dias Henrique, José Vanildo da Silva, Michelle Ramalho Cardoso, Ricardo Augusto Lobo Gluck Paul e Rubens Renato Angelotti.
A nova diretoria terá ainda Simon Riemann Costa e Silva, Eduardo Rigotto Netto e Frederico Ferreira Pedrosa no Conselho Fiscal, com Francinaldo Kennedy Lima Barbosa, Manoel Rodrigues Neto e Rodrigo Ferreira La Rosa como suplentes.
“Hoje iniciamos uma nova fase na Confederação Brasileira de Futebol”, declarou Xaud após a eleição. “Nossa gestão será marcada pela renovação das ideias e pela agregação de todos aqueles dispostos a contribuir efetivamente para o desenvolvimento pleno do nosso esporte”, afirmou o novo presidente.
A eleição ocorre em meio a um momento turbulento da CBF. Ednaldo Rodrigues foi afastado da presidência há pouco mais de uma semana por decisão da Justiça do Rio de Janeiro, motivada por uma suposta fraude documental envolvendo a assinatura do ex-presidente Antônio Nunes. Afastado judicialmente, Ednaldo optou por não recorrer, abrindo caminho para a eleição de um novo comando.
A candidatura de Xaud surgiu a partir do apoio de um bloco com 19 federações estaduais, que em manifesto pediram a renovação da entidade. O grupo obteve o suporte de 25 das 27 federações – com exceção de São Paulo e Mato Grosso – e o número mínimo de clubes necessário para formalizar a chapa.
Do lado oposto, Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista e apoiado por clubes das ligas Libra e Liga Forte Futebol (LFU), tentou articular uma candidatura alternativa, mas não conseguiu reunir o número de federações necessário para registrar chapa concorrente.
A ausência de maior participação dos clubes no processo eleitoral motivou críticas. Um grupo com 21 clubes anunciou boicote à eleição, questionando o sistema que confere maior peso às federações. Apesar da ausência da maioria, o novo presidente afirmou estar aberto ao diálogo com os clubes após o pleito.
Na segunda-feira (20), Xaud terá sua primeira missão como presidente: apresentar oficialmente o técnico italiano Carlo Ancelotti como novo comandante da Seleção Brasileira. A contratação foi articulada ainda sob a gestão de Ednaldo Rodrigues.
Samir Xaud, que já foi secretário estadual de saúde em Roraima, chega à presidência da CBF sob a sombra de denúncias. Em 2020, foi afastado da função de perito médico do Tribunal de Justiça local por suposto erro médico. Ele também responde a uma ação do Ministério Público de Roraima por suposta participação em esquema de falsificação de documentos enquanto dirigia o Hospital Geral de Roraima, entre 2017 e 2020, com prejuízo estimado em R$ 1,4 milhão. Xaud nega as acusações.
Reportagens recentes também apontaram uma tentativa de regularização, por parte do novo presidente, de uma propriedade rural localizada em área de proteção ambiental no estado de Roraima. Xaud afirmou que a denúncia é infundada e política.
Desde 1979, a presidência da CBF esteve sob o comando de sete dirigentes: Giulite Coutinho, Octávio Pinto Guimarães, Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero, Rogério Caboclo e Ednaldo Rodrigues. Samir Xaud é o oitavo nome na lista, excluindo presidentes interinos.
A CBF encerrou 2024 com arrecadação recorde de R$ 1,5 bilhão, mas vive uma crise de representatividade e governança. Resta agora ao novo presidente conduzir a entidade em meio a desafios políticos e judiciais, com a promessa de implementar uma gestão mais aberta e moderna.