A Polícia Civil de São Paulo identificou movimentações financeiras consideradas atípicas na conta bancária de Augusto Melo, presidente afastado do Corinthians. Segundo relatório incorporado ao pedido de habeas corpus da defesa do dirigente, sua conta recebeu mais de R$ 152 mil em espécie entre dezembro de 2023 e abril de 2024, período que antecedeu o escândalo envolvendo a empresa VaideBet, patrocinadora do clube.
O relatório aponta que os valores foram divididos em depósitos de até R$ 2 mil, o que, segundo os investigadores, pode indicar uma tentativa de burlar os mecanismos de controle bancário e ocultar a identidade dos depositantes. Desde 2020, o Banco Central exige a identificação de quem realiza depósitos acima de R$ 2 mil.
O documento foi citado pela reportagem do UOL, que também confirmou um volume atípico de transações em dezembro, apenas uma semana após a eleição que elegeu Augusto Melo presidente do Corinthians. No dia 1º daquele mês, foram feitos 16 depósitos em dinheiro, que somaram R$ 31.850.
As movimentações mensais identificadas foram:
Ainda segundo o relatório, logo após os depósitos em dinheiro vivo, foram registradas transferências por PIX de valores baixos, supostamente para identificar quem teria feito os depósitos anteriores. Um dos nomes ligados a essas transferências foi Carlos Eduardo Melo Silva, o Kadu Melo, sobrinho do presidente afastado e conselheiro do clube.
A Polícia Civil aponta que a prática de depósitos fracionados em espécie, combinada com a posterior transferência de pequenos valores, pode configurar uma tentativa de dissimular a origem dos recursos — o que reforça a suspeita de fragmentação de valores, já observada em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
Procurado, Augusto Melo se manifestou por meio de nota oficial. O presidente afastado declarou que as movimentações são legais e condizentes com sua atuação como comerciante:
“Todas as minhas transações bancárias foram entregues à Polícia para investigação por minha vontade. Os valores que ali constam estão todos em minha declaração de Imposto de Renda. Sou dono de comércio e de um estacionamento, muitas vezes o dinheiro que entra é em espécie, e o meu pró-labore e de meus sócios são retirados em dinheiro vivo. Para isso, eu preciso que seja depositado em minha conta. Minhas contas e vida são limpas e estou sempre à disposição para esclarecimentos.”
O indiciamento de Augusto Melo no inquérito do caso VaideBet é contestado por sua defesa, que tenta anular o processo com base em supostas irregularidades na condução das investigações. O escândalo levou ao afastamento do dirigente pelo Conselho Deliberativo do Corinthians no mês passado.