A eleição para a presidência definitiva da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS), realizada em 8 de abril, está sob questionamento após denúncias de manobras envolvendo votos de clubes amadores. O presidente interino Estevão Petrallas foi confirmado no cargo com 48 pontos contra 39 de André Baird, presidente do Costa Rica, mas a forma como o resultado foi construído gerou acusações de manipulação e distorção do processo eleitoral.
Conforme o estatuto da FFMS, clubes filiados devem estar em situação regular por pelo menos 60 dias antes do pleito. No entanto, a lista oficial de votantes foi divulgada apenas uma semana antes da eleição, impossibilitando a conferência adequada das condições de filiação. A reportagem apurou que 14 novos filiados, todos de peso 1 — vinculados ao futebol amador — foram incluídos, sendo nove deles decisivos para a vitória de Petrallas.
Na contagem geral, Baird obteve maioria entre os clubes da Série A, com seis votos (peso 18), contra quatro de Petrallas (peso 12). Na Série B, Petrallas venceu por um voto (nove contra oito), obtendo 18 pontos, contra 16 do adversário. A virada ocorreu no segmento amador: Petrallas recebeu 18 votos de peso 1, enquanto Baird obteve apenas cinco. O placar final foi 48 a 39.
Entre os clubes recém-incluídos na lista eleitoral estavam o Instituto Bola de Ouro, Clube Atlético de MS, Associação Atlética Pelezinho, Redenção FC e o Clube Atlético Santista. Nenhum havia participado de eleições anteriores. Enquanto isso, clubes tradicionais como Misto (Três Lagoas), Taveirópolis (Campo Grande) e 7 de Setembro (Dourados) ficaram de fora por inadimplência e alegaram dificuldades para regularizar suas pendências.
Dirigentes de clubes profissionais criticaram a estratégia, classificando a ampliação do colégio eleitoral às vésperas da eleição como artificial e antidemocrática. Um dirigente da Série A, sob anonimato, afirmou que houve criação de “votos fantasmas”. “O amador virou moeda de troca”, disse. Para críticos, a prática reflete um padrão histórico na FFMS de uso político do futebol amador, menos oneroso e burocrático, mas com peso equivalente na eleição.
Giovanni Marques, presidente do Operário de Caarapó, repudiou o processo: “Criar votos de peso 1 às vésperas do pleito não é democracia, é jogo de cartas marcadas.” Já João Luiz Ribeiro, o Kiko, presidente do Corumbaense, destacou a repetição de práticas antigas: “Infelizmente, a FFMS parece seguir o mesmo roteiro: muita politicagem e pouco futebol.”
A eleição ocorreu após a saída do ex-presidente Francisco Cezário, afastado em 2023 por decisão judicial após operação do Gaeco. Cezário ainda tenta reverter na Justiça a Assembleia de 14 de outubro de 2024 que o afastou, o que pode gerar novos desdobramentos no cenário político da entidade.